#171 – Toda a nossa insatisfação e ansiedade vem disso
Toda ansiedade, toda insatisfação, todas as razões para esperar que nossas experiências possam ser diferentes, estão enraizadas no nosso medo da morte. O medo da morte está sempre no cenário de fundo. É como disse o mestre Zen Suzuki: “A vida é como entrar num barco prestes a zarpar e afundar”. Mas é muito difícil, não importa o quanto escutemos, acreditar na nossa própria morte. Muitas práticas espirituais tentam nos encorajar a levar nossa morte a sério, mas é impressionante como é difícil permitir que isso aconteça. A única coisa na vida que nós realmente podemos contar, é incrivelmente distante para todos nós. Nós não chegamos ao ponto de dizer: de jeito nenhum, eu não vou morrer! Porque é claro que nós sabemos que vamos. Mas definitivamente é mais tarde, essa é a maior esperança.
Somos criados em uma cultura que teme a morte e a esconde de nós. No entanto, nós a experimentamos o tempo todo! Nós a experimentamos na forma de decepção, na forma de coisas que não funcionam. Nós a experimentamos na forma de coisas constantemente em um processo de mudança. Quando o dia acaba, quando o segundo acaba, quando respiramos, essa é a morte na vida diária. A morte na vida diária também pode ser definida como a experiência de todas as coisas que não queremos: nosso casamento não está funcionando, nosso trabalho não está satisfatório.
Ter uma relação com a morte na vida diária significa que começamos a ser capazes de esperar, a relaxar na insegurança, no pânico, na vergonha, nas coisas que não estão funcionando. Conforme os anos passam, nós não chamamos as babás tão rapidamente. A morte e a não-esperança dão a motivação adequada. Motivação adequada para viver uma vida contemplativa e compassiva. Mas a maior parte do tempo, evitar a morte é nossa maior motivação. Tendemos a evitar qualquer sensação de problema. Nós sempre tentamos negar que seja uma ocorrência natural que as coisas mudam. Que a areia está escorrendo entre nossos dedos! O tempo está passando. Isso é tão natural quanto a mudança das estações, e o dia se transformando em noite. Mas ficarmos velhos, ficarmos doentes, perdermos o que amamos, nós não vemos esses eventos como ocorrências naturais. Queremos evitar essa sensação de morte, não importa como.
Ensinamentos de Pema Chodron